Quando criança, muitas vezes largava do colégio e ia direto para onde minha mãe trabalhava. Minha mãe trabalhava no Banco do Brasil. Talvez eu tivesse que ir até lá e ficar esperando por ela até o término do expediente porque não teria quem ficasse" cuidando" de mim naquele dia. Em algumas dessas vezes lembro de ficar postado numas das máquinas de escrever da agência. Ficava batendo com os pequenos dedos naquelas teclas firmes. Mainha me colocava na máquina para passar o tempo e não ficar abuzado ou abuzando ela. Eu batia nas teclas de maneira desordenada. Desenhava palavras. Tentava produzir recados. Algumas pessoas viam e me achavam "tão bonitinho" ali, "escrevendo".
O que fazemos e somos condicionados a fazer na infância influencia nosso futuro grandemente. Não imaginamos o quanto. Essa lembrança pode ser uma hipótese do meu atual gosto pela escrita e, consequentemente, pela leitura. A máquina de escrever do Banco se tornou mais que um objeto selecionado a sua finalidade naqueles dias de labuta de minha mãe e de longas esperas para mim.
Não acho que escrevo no nível de muitas pessoas que leio ou sou contemporâneo. Muito menos dos grandes letrados e escritores que já tive a oportunidade de ler e ouvir comentários. Escrevo razoavelmente. De regular passando para bom, às vezes ótimo, quando dedico-me. Muitas vezes escrevo sem querer.
Já escrevi letras para músicas, poemas chulos, muitas cartas, diários, dissertações, artigos, textos para blogs (principalmente para o Tempo Moderno), críticas, resenhas, comentários, montes de coisas em variados lugares, plataformas e papéis. Acho pouco. Tenho que fazer mais.
Logo logo terei que produzir uma monografia no curso de Ciência Jurídicas. Esse pode ser, até a presente situação, o meu grande desafio pessoal, desde as batidas desajustadas na máquina de escrever do Banco. Escrever é uma tarefa difícil. Talvez só exista uma coisa que consiga ser mais árdua: saber sobre o que escrever. Escolher o assunto, o tema. Saber diferenciar as questões, problematizar, criar hipóteses, relacionar abordagens, apontar ideias e soluções.
Hoje uso um computador como máquina de escrever. Diferentemente do passado, as batidas nas teclas são pensadas, atentas, visando uma finalidade. Não me acham tão bonitinho quanto antas, mas julgo mais efetivas minhas palavras atuais, apesar de muitas vezes ainda se mostrarem desordenadas ou insanas para muitos.
segunda-feira, fevereiro 22, 2010
domingo, fevereiro 14, 2010
segunda-feira, fevereiro 01, 2010
Assinar:
Postagens (Atom)