"Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol
Gosto muito de você, leãozinho
Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho"
(trecho da letra da música "O Leãozinho", de Caetano Veloso)
Foram cinco anos de idas e vindas. Algumas idas extremamente rápidas, agoniadas, às vezes chegando perto do desespero para não perder o horário do transporte. Voltas longas, com músculos e cérebro extenuados.
E numa dessas idas e vindas terminei o curso de Direito, a famigerada (e hoje banal) faculdade de Ciências Jurídicas. O fiz sem provar a deliciosa iguaria
fast food thanks god Tio Sam da lanchonte Leãozinho.
Era impossível escapar dos odores, das placas com as fotos dos sanduíches e das cenas de comilança sem pudor protagonizadas por quem lá estava mordendo seus pedidos, praticando a gula sem qualquer vênia. Impossível porque ali era o ponto de reunião para o retorno.
Sem exceção, todos que frequentavam o transporte coletivo e quiçá também os que perambulavam pela faculdade tinham provado do Leãozinho, mas eu não. Por incontáveis noites fiquei ali, na espreita, como um dos felinos salvagens, mas sem coragem ou dinheiro para avançar e fazer qualquer pedido guloso.
Dinheiro até tinha, às vezes. Confesso que na maioria dos dias preferia dar aquela forradinha no buxo em outros lugares, mas a vontade de comer no Leãozinho sempre existiu, confesso.
Se não fosse por uma exceção protagonizada por meu sogro eu nunca saberia o gosto de uma das gororobas festifudianas do Leãzinho. Nem todo sogro faz uma bondade dessas. Nesse caso, alimentou uma ideia.
Depois do todos os meus anos maltrapilhos de estudo na faculdade, calhou de estar naquela lanchonete. Era noite também, e tarde, logo há fome. Ele, o sogro, bancou um audacioso sanduíche daqueles para cada qual naquela noite. Mesmo assim não valeu. Eu tinha que ingerir um entre às 18h30min e 22h30min, de segunda a sexta, durante qualquer dos anos letivos em que estive matriculado na faculdade de Direito.
Simples vontades desnecessárias. Ocorrem todos os dias. Matá-las como se abate uma caça talvez seja inevitável e natural. Esse é o normal. Todos nós, homens animais, temos nossas vontades cotidianas e algumas deixamos que passem, continuando a viver.