domingo, outubro 19, 2008

39

Como se fosse saindo de um vão escuro, pessoas passando, minha cabeça baixa. A chuva caindo e batendo no guarda-chuva preto de cabo longo e frio. Meus pés molhados. Os postes no alto, um atrás do outro, passando, devagar, de acordo com minhas passadas lentas e compassadas, passadas rítmicas. Aquele amarelo das luzes, amarelo obscuro. Tum, tum, tum, tum, tum.

Entre os pingos, pingou-me uma lágrima. Satisfação da insatisfação? A vontade inerente de ter o que queria, o desejo contundente de resplandecer no cume de um crepúsculo, comparecer e fugir. A incompreensão e a hipocrisia não me deixaram entender, só me deixaram enxugar o pingo, que teimava em voltar ao lugar.

Mirando as cegas às faces mal encaradas que passavam ao meu lado, senti um lindo desejo de correr, beber, de me entorpecer, de gritar, de deitar no chão molhado e nojento e ainda rolar rindo e sorrindo, brincando desvairado, tudo na imaginação.

Numa onda de horror e prazer, tudo se limitou a uma dúzia de náuseas... É... Que engraçado. Sento-me só, sentindo-me só, e sozinho não estava. Pensamentos iam e vinham de todos os lados, rebatendo minha cabeça como uma bola de futebol. A chuva não parou, os pingos continuavam a cair, de cima, do céu, e um pouco mais abaixo, das minhas órbitas escuras e inchadas.

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