segunda-feira, fevereiro 22, 2010

A máquina de escrever do banco

Quando criança, muitas vezes largava do colégio e ia direto para onde minha mãe trabalhava. Minha mãe trabalhava no Banco do Brasil. Talvez eu tivesse que ir até lá e ficar esperando por ela até o término do expediente porque não teria quem ficasse" cuidando" de mim naquele dia. Em algumas dessas vezes lembro de ficar postado numas das máquinas de escrever da agência. Ficava batendo com os pequenos dedos naquelas teclas firmes. Mainha me colocava na máquina para passar o tempo e não ficar abuzado ou abuzando ela. Eu batia nas teclas de maneira desordenada. Desenhava palavras. Tentava produzir recados. Algumas pessoas viam e me achavam "tão bonitinho" ali, "escrevendo".

O que fazemos e somos condicionados a fazer na infância influencia nosso futuro grandemente. Não imaginamos o quanto. Essa lembrança pode ser uma hipótese do meu atual gosto pela escrita e, consequentemente, pela leitura. A máquina de escrever do Banco se tornou mais que um objeto selecionado a sua finalidade naqueles dias de labuta de minha mãe e de longas esperas para mim.

Não acho que escrevo no nível de muitas pessoas que leio ou sou contemporâneo. Muito menos dos grandes letrados e escritores que já tive a oportunidade de ler e ouvir comentários. Escrevo razoavelmente. De regular passando para bom, às vezes ótimo, quando dedico-me. Muitas vezes escrevo sem querer.

Já escrevi letras para músicas, poemas chulos, muitas cartas, diários, dissertações, artigos, textos para blogs (principalmente para o Tempo Moderno), críticas, resenhas, comentários, montes de coisas em variados lugares, plataformas e papéis. Acho pouco. Tenho que fazer mais.

Logo logo terei que produzir uma monografia no curso de Ciência Jurídicas. Esse pode ser, até a presente situação, o meu grande desafio pessoal, desde as batidas desajustadas na máquina de escrever do Banco. Escrever é uma tarefa difícil. Talvez só exista uma coisa que consiga ser mais árdua: saber sobre o que escrever. Escolher o assunto, o tema. Saber diferenciar as questões, problematizar, criar hipóteses, relacionar abordagens, apontar ideias e soluções.

Hoje uso um computador como máquina de escrever. Diferentemente do passado, as batidas nas teclas são pensadas, atentas, visando uma finalidade. Não me acham tão bonitinho quanto antas, mas julgo mais efetivas minhas palavras atuais, apesar de muitas vezes ainda se mostrarem desordenadas ou insanas para muitos.

4 comentários:

Mariana Vital disse...

Fiquei imaginando vc tão bonitinho lá "batendo" na máquina de escrever, me fez lembrar da minha infância tbm. Saudades! Quanto ao seu TC paciência, vc está apenas começando.
Bjs
Boa sorte.

Anônimo disse...

"Escrever é uma tarefa difícil. Talvez só exista uma coisa que consiga ser mais árdua: saber sobre o que escrever. Escolher o assunto, o tema. Saber diferenciar as questões, problematizar, criar hipóteses, relacionar abordagens, apontar ideias e soluções."

Escreveu bem! :D

É complicado mesmo... Mas é uma tarefa que sempre vale à pena, não é? Uma forma de transmitir o que pensamos e o que achamos do mundo. Liberdade de expressão.

Gosto daqui! Cada dia, escrevendo melhor.

DILERMArtins disse...

Mas bah, Wenndell,
Sou aposentado do BB e também trabalhei em na agência de União, no período de l983 até 1987, não eras nascido... Ainda tenho alguns amigos em União, talvez tenha sido contemporâneo de sua mainha, não sei...É certo que as máquinas onde brincavas foram meu instrumento de trabalho. Gostei do teu blog e voltarei outas vezes.
Abração.

Amanda Aouad disse...

É, nossa infância é mesmo o indício do que seremos. A tarefa do que escrever é árdua, mas um vício, não? Acho que não saberia fazer outra coisa.

abraços e boa sorte no seu TC.