Crônica
Em mais uma tarde quente do nordeste sai para comprar material escolar, como um menino no começo de ano escolar sai com os pais para comprar seus lápis novos, caderno, borracha, corretivo etc. No meu caso era material escolar para usar na faculdade. Estava procurando basicamente folha. Queria algo pra escrever as aulas e organizar. Mal esperava que naquela tarde eu fosse concluir algo sobre meu eu.
Já passava das três horas da tarde quando sai de casa em direção ao comércio da cidade. Desci minha rua, dobrei a esquina que já dá para a rua de uma loja de armarinho e artigos diversos. Pus os pés na loja e me bateu um desânimo. Não entendi exatamente na hora o porquê, mas no fundo eu sabia. Olhei tudo, remexi, olhei novamente e nada. Não achei o que eu queria. Normal. Entre as folhas para fichário, as agendas, os cadernos, aquele monte de parafernálias escolar eu fui afundando metafisicamente. Cai tão fundo que quando percebi estava flutuando entre um lápis de cor azul e um compasso ordinário e sarcástico.
Andei por uns 100 metros, lembrei de um caminho mais perto, passei por ambulantes que vendiam cd´s piratas e dvd´s, dei uma olhada, mas não comprei, me achei no direito de repudiar tal fato, só que foi só por um momento, até quando logo lembrei que também sou uma cópia. Continuei andando tranqüilo. Avisto outra loja de armarinho, menor que a outra, entretanto o meu desânimo era maior. Algo tinha mexido comigo. Fiquei inquieto. Cara feia, emburrado, esperando cai do céu a solução de tudo o que eu não sabia. Mas não caiu nada, talvez tenha caído algo, mas eu não percebi. Na loja eu novamente remexi tudo, olhei, voltei a olhar e nada. Eu sabia o que precisava, mas não materializei nem gostei do que já estava materializado. Uma estupidez que só vez ou outra alguém consegue alcançar de tal tamanho enorme. Não é pra tanto, talvez.
Saindo da loja, fui andando em passos largos e pensando: “Devo ter de inventar? Inventar o quê? Tenho que entender. Entender o quê? Nada se encaixa no que quero, mas, importa?” Estava precisando, porém não quis aceitar. Criancice? Chatice? Safadeza? Não. Acho, somente acho que era por que eu não sabia mesmo e não queria saber, pois eu estava esperando por algo que não veio. Algo que eu esperava com vontade e expectativa. Tinha coisas diferentes da cabeça e não eram coisas banais. Pensava em muitas coisas, tinha já planejado algumas outras. Estava perfeito ou quase. Até quando entrei na primeira loja, daí tudo mudou de repente.
É estranho como uma coisa levou a outra. As lojas e os cadernos não tinham nada a ver com minhas expectativas e angustias decorrentes de não sei até agora o quê. Não saber fazer alguma coisa é normal, corriqueiro, compreensivo. Mas não entender as coisas é uma lástima. É horrível. E tem coisa pior: Não entender e não saber fazer as coisas. Não! Tem pior que esse pior: Não entender, não saber fazer e não querer um nem outro. Talvez por isso me percebesse naquele momento uma máquina. Reproduzindo pensamentos. Raciocinando de forma abstrata e exata ao mesmo tempo numa coerência fora do normal, tão fora do normal que sou eu entendia. Talvez também eu estivesse num mundo paralelo. Em um mundo onde meus pensamentos se se materializavam e eu só precisava pensar e Puff! Apareceu uma mesa e cadeira! Puff! Apareceu as folhas e caneta. Puff! Uma folha totalmente preenchida com um inteligente raciocínio acerca do momento político-social atual, com inúmeras citações de muitos autores renomados e inteligentes. Puff! Outra folha preenchida com uma linda carta de amor, sentimentos e emoções magistralmente expressos. Puff! Lindas palavras proferidas sem ao menos mexer a boca.
Sou um rei do nada.
2 comentários:
Legal a sua Crônica.
Mas... as vezes eu não te entendo, é difícil p/ mim, pq eu fico frustrada, aí acabo desistindo de entender vc.
Na verdade eu acho q nem vc se entende.
=/
i`m queen of pain
entendo... estar longe meio perto... boa volta as aulas pra nós!
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