sexta-feira, agosto 14, 2009

Li...

A Artista do Corpo, de Don DeLillo, livro lançado em 2001. A edição que tenho aqui em casa é da Companhia das Letras, com tradução de Paulo Henrique Britto. Esse livro foi um presente do meu amigo Hugo Oliveira, mais um grande jornalista palmarino.

A Artista do Corpo é sobre uma mulher chamada Lauren Hartke e o seu desenvolvimento e envolvimento com fatos e pessoas no espaço de tempo da narração. Lauren é uma artista que trabalha com seu corpo para expressar sua arte. No livro, somente quase no seu fim fica claro ao leitor o que exatamente Lauren faz. Durante toda a narração Lauren divide as páginas com sensações e, principalmente, com alguém que pode existir ou não. O autor coloca a dúvida. Pode ser alguém ou um pensamento, ou até uma simples vontade. Penso que talvez seja a extensão de seus próprios pensamentos afetados por alguma coisa, talvez a morte (in)esperada de seu companheiro, um cineasta chamado Rey Robles.

Logo quando comecei a ler A Artista do Corpo pensei: Esse livro daria um bom filme. O primeiro capítulo me deixou com essa exata impressão. Caso qualquer dia desses, e tenho até o final de minha vida para tentar algo parecido, eu tenha a oportunidade ou consiga ter a vontade suficiente para filmar alguma coisa que possa chegar perto de ser chamada de "filme", gostaria de produzir uma cena parecida com o primeiro capítulo de A Artista do Corpo.

A capa desse exemplar que ganhei é algo à parte. Erótica e estranha.

"Você está em pé diante da mesa mexendo nos papéis e deixa cair uma coisa. Só que você não percebe. Você leva um segundo ou dois para perceber, e mesmo assim você só se dá conta de uma distorção informe do espaço pululante em torno de seu corpo. Mas depois que você percebe que deixou cair alguma cosa, você ouve o ruído do objeto batendo no chão, com retardo. O som chega até você após atravessar uma imensa rede de distâncias. Você ouve o objeto cair e ao mesmo tempo percebe o que é, mais ou menos, e é um clipe de papel. Você sabe que é isso com base no som que ele faz quando bate no chão e na memória recuperada da queda em si, o objeto caindo de sua mãe ou da beira do papel ao qual estava preso. O clipe escorregou da beira do papel. Agora que você sabe que o deixou cair, se lembra de como foi que aconteceu, ou se lembra em parte, ou meio que mais ou menos vê a cena, ou então outra coisa. O clipe de papel bate no chão e quica, insignificante e sem peso, um som para o qual não existe onomatopéia, o som de um clipe caindo, mas, quando você se abaixa para pegá-lo, ele não está lá."
(páginas 87/88, primeiro parágrafo).

Com alguns detalhes a mais, escrevi (ou escreverei) sobre esse livro também no blogue Tempo Moderno.

2 comentários:

Geomário Alves disse...

Obrigado pela visita camarada.
Concordo com a frase!
Rapaz to pensando em ler seriamente esse livro ai, to precisando "fugir" uma pouco.

Estêvão dos Anjos disse...

Vindo do Hugo não tenho dúvida que deve ser bom!